*CONTEXTO HISTÓRICO
A segunda geração do Romantismo tem seus traços mais facilmente identificáveis no campo da poesia e seu marco inicial é dado pela publicação da poesia de Álvares de Azevedo (1831 - 1852), em 1853. Em vez do índio, da natureza e da pátria, ganham ênfase a angústia, o sofrimento, a dor existencial, o amor que oscila entre a sensualidade e a idealização, entre outros temas de grande carga subjetiva. Exemplares desse período são as obras de Fagundes Varela (1841 - 1875), Casimiro de Abreu (1839 - 1860) e Álvares de Azevedo (1831 - 1852).
Em 1856, com a polêmica em torno no poema A Confederação dos
Tamoios, de Gonçalves
de Magalhães (1811 - 1882), ganha expressão a figura de José
de Alencar (1829 - 1877), o mais importante prosador do Romantismo
brasileiro. Nas objeções que faz a Magalhães, Alencar manifesta sua posição a
respeito das correntes nacionalistas e delineia o programa de literatura
indianista que seguiria nos anos seguintes. As premissas de O Guarani (1857), Os
Filhos de Tupã (1863), Iracema (1865) e Ubirajara (1874) estão formuladas nos
artigos escritos a propósito da polêmica.
A ficção com ambientação urbana toma corpo neste período. Iniciada
com A Moreninha, de Macedo, a linhagem tem continuidade com Memórias de um
Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Publicado em folhetim entre
1852 e 1853, o livro pode ser lido como uma reação aos hábitos inspirados no
"refinamento" da corte. Assim como os livros de Macedo, foi sucesso de público e
contribuiu para a criação do romance brasileiro.
Bernardo
Guimarães (1825 - 1884), Varnhagen, Pereira da Silva, Luiz
Gama (1830 - 1882), José Bonifácio e Machado
de Assis (1839 - 1908) também tiveram participação importante na produção
intelectual do período. Além das atividades como poetas ou romancistas, eles
protagonizaram o debate de idéias, geralmente veiculado pela imprensa, de
fundamental importância para a consolidação da literatura no Brasil.
*CARACTERÍSTICAS
A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azevedo, em 1853, é considerada por parte da crítica como marco inicial da segunda geração do Romantismo no Brasil. Essa geração, cujos maiores expoentes são Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Casimiro de Abreu, tem a marca do ultra-romantismo. A angústia, o sofrimento, a dor existencial, o amor que oscila entre a sensualidade e a idealização são alguns dos temas de grande carga subjetiva que tomam o lugar do índio, da natureza e da pátria, dominantes na geração anterior.
Essa exacerbação da sentimentalidade e das fantasias da imaginação
mórbida exige uma versificação mais livre, menos apegada a esquemas formais
preestabelecidos, e define as obras poéticas de maior impacto do período, como
Um Cadáver de Poeta, de Álvares de Azevedo.
Inspirados pelo inglês Byron, pelo italiano Giacomo Leopardi e
pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de Musset, os poetas da segunda
geração escrevem poemas que sugerem uma entrega total aos caprichos da
sensibilidade e da fantasia, abordando temas que vão do vulgar ao sublime, do
poético ao sarcástico e ao prosaico. A morte precoce ajudou a compor a mística
em torno desses poetas de inspiração byroniana, que não raro fazem apologia da
misantropia e do narcisismo, cultivam paixões incestuosas, macabras, demoníacas
e mórbidas.
No campo da crônica e da prosa jornalística de maneira geral,
talvez seja mais adequado considerar 1856 como o momento de transição para a
segunda geração romântica. Nesse ano foi publicado A Confederação dos Tamoios,
poema épico de Gonçalves de Magalhães que deu início à polêmica mais importante
do movimento, travada justamente entre os defensores de Magalhães e o mais
expressivo prosador do Romantismo: José de Alencar.
O assunto abordado pelo poeta é a rebelião dos tupis contra os
portugueses ocorrida no Rio de Janeiro no século XVI, com destaque para a figura
do chefe Aimbire, transformado em símbolo de resistência do homem americano.
Impresso às custas do Imperador Pedro II, o poema era expressão acabada da
literatura oficial. Em parte por essa razão, José de Alencar, recém-iniciado na
carreira literária, manifestou-se publicamente sobre o texto. Escreveu diversos
artigos, assinados sob o pseudônimo Ig, em que denunciava a inferioridade da
realização do poeta ante a magnitude do objeto. Porto-Alegre, Monte Alverne e,
num caso único no país, o próprio Imperador, saíram em defesa do poeta. Alencar,
por sua vez, foi secundado por Ômega, pseudônimo do jornalista Pinheiro
Guimarães.
É nesse momento que se articula uma faceta importante do projeto
literário de Alencar. Nas objeções que faz a Magalhães em seus artigos, Alencar
manifesta sua posição a respeito das correntes nacionalistas e delineia o
programa de literatura indianista que seguiria nos anos seguintes. As premissas
de O Guarani (1857), Os Filhos de Tupã (1863), Iracema (1865) e Ubirajara (1874)
podem todas ser extraídas dos textos escritos a propósito da polêmica. "A
crítica dos criadores é muitas vezes programa; examinando outros escritores,
procuram ver claro neles mesmos", escreve Antonio
Candido (1918) respeito desse episódio. Cabe notar que a discussão em torno
do livro A Confederação dos Tamoios revela ainda a existência de uma dimensão
pública para o debate literário, praticamente inexistente nos períodos
anteriores e que ganha impulso com a expansão da atividade da imprensa.
Além de Alencar, outros autores, entre eles Dutra e Melo,
Junqueira Freire, Álvares de Azevedo e Franklin
Távora (1842 - 1888), contribuem para o adensamento da atividade crítica
nesse momento. Em publicações como Nova Minerva, Correio Paulistano e
Atualidade, eles produzem ensaios, prefácios e artigos que atestam a importância
do momento para o estabelecimento definitivo de uma crítica literária no
país.
Paralelamente a isso, Pereira da Silva, Antônio Henriques Leal,
Varnhagen, entre críticos, eruditos e professores de origem diversa, reúnem
textos, editam antologias, pesquisam biografias, redescobrem autores brasileiros
do passado, vão, enfim, tornando possível a principal aspiração do Romantismo no
plano da crítica: elaborar uma história literária que exprimisse a imagem da
inteligência nacional na seqüência do tempo. No entanto, só a partir de 1880,
com a publicação da História da Literatura Brasileira, de Sílvio
Romero (1851 - 1914), esse processo ganharia uma síntese de grande
expressão.
Além do indianismo, outras vertentes temáticas características da
prosa romântica tomam corpo. A urbana, por exemplo. Iniciada com A Moreninha, de
Macedo, essa linhagem tem continuidade por meio de uma das melhores obras do
período: Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
Publicado em forma de folhetim entre 1852 e 1853, o livro pode ser lido como uma
reação ao esnobismo afrancesado, aos hábitos inspirados no "refinamento" da
corte. Ambientada no tempo de D. João VI, a história criada por Almeida centra
foco nos estratos mais baixos da sociedade. Assim como os livros de Macedo, foi
sucesso de público e teve contribuição importante para a criação de uma ficção
brasileira original.
Dois anos depois da publicação da obra de Manuel Antônio de
Almeida, Alencar começa a carreira literária. Seus primeiros livros, Cinco
minutos e Viuvinha, publicados em folhetim em 1856 e 1857 no Diário de Rio de
Janeiro, definem as fórmulas dos "perfis femininos" e dos "quadros de
sociedade", segundo a definição do crítico Antônio Soares Amora. Ambos pertencem
à temática urbana, da qual ainda fariam parte Lucíola (1862), Diva (1864), A
Pata da Gazela (1870), Sonhos D?Ouro (1872) e Senhora (1875).
*AUTORES
José de Alencar, Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Varnhagen, Pereira da Silva, Luiz Gama (1830 - 1882), José Bonifácio, Machado de Assis. São esses alguns dos autores que produziram textos importantes para a formação da consciência literária do período. Geralmente voltados para atividades literárias de outro teor, como a poesia e o romance, eles protagonizaram um debate de idéias, no mais das vezes veiculadas pela imprensa, de importância fundamental para a consolidação da literatura no Brasil.
Poeta mais destacado da segunda geração romântica, Álvares de
Azevedo é autor de alguns dos poemas mais ilustrativos desse Romantismo calcado
nos dramas da subjetividade, no pessimismo e na obsessão pela morte, presente em
títulos como Um Cadáver de Poeta, Se Eu Morresse Amanhã e Lembrança de Morrer.
Ele também é autor de dois ensaios importantes, Jacques Rolla e Literatura e
Civilização em Portugal, escritos entre 1849 e 1850. Em ambos, discorre
principalmente sobre sua concepção do belo e tece considerações sobre psicologia
literária. Apesar de morto antes de completar vinte e um anos, deixou nesses
textos, assim como na excelente obra poética que realizou, uma consciência aguda
dos problemas estéticos de seu tempo.
Varnhagen e Pereira da Silva são autores de alguns dos compêndios
mais importantes do período. O Florilégio da Poesia Brasileira (1850-1853), de
Varnhagen, é a antologia de literatura mais rica de seu tempo. Foi a que
proporcionou pela primeira vez um conjunto de poemas de Gregório
de Matos (1636 - 1696), cuja descoberta se deve ao Romantismo. Pereira da
Silva, por sua vez, tem importância pela pesquisa biográfica que realizou. Em
1856, publicou Varões Ilustres do Brasil Durante os Tempos Coloniais, compêndio
de vinte biografias de importantes intelectuais brasileiros cujo modelo era
inspirado na obra do historiador romano Plutarco.
Bernardo Guimarães (1825-1884) é outro nome importante do período.
Em São Paulo, conviveu com Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e José Bonifácio,
o Moço. Entre 1858 e 1861 viveu no Rio de Janeiro, onde trabalhou como
jornalista e crítico literário do jornal Atualidade. Nesse momento, a defesa de
idéias republicanas e mais tarde anti-escravistas começa a tomar forma
consistente. Alguns de seus principais defensores, como José Bonifácio, o Moço
(1827-1886), e Luiz Gama (1830-1882), foram também importantes cronistas do
período.
Bonifácio, por exemplo, foi diretor do jornal Ipiranga e
colaborador em A Tribuna Liberal, de Inglês
de Souza (1853 - 1918), no Rio de Janeiro. Além de deputado e senador, foi
professor na Faculdade de Direito de São Paulo, onde teve como alunos Rui
Barbosa (1849 - 1923), Castro
Alves (1847 - 1871), Joaquim Nabuco e Afonso Pena. Gama, por sua vez, foi
fundador do jornal Diabo Coxo. O periódico era ilustrado pelo italiano Angelo
Agostini e é considerado marco da imprensa humorística em São Paulo. Entre 1864
e 1875, Luiz Gama colaborou nos jornais Ipiranga, Cabrião, Coroaci e O
Polichileno. E fundou, em 1869, o jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa.
Até Machado de Assis (1839-1908), maior prosador do Realismo
brasileiro e geralmente identificado com o período posterior ao Romantismo,
exerceu atividade influente na imprensa nas décadas de 1850 e 1860, antes de
estrear como romancista em 1872. Machado começou a trabalhar aos 16 anos como
tipógrafo aprendiz da Imprensa Nacional. Aos 18, entrou na tipografia de Paula
Brito, que publicava o jornal A Marmota Fluminense, que em 1855 estampou um de
seus primeiros poemas, Ela. Nos anos seguintes trabalhou como cronista, crítico
literário e teatral de vários jornais, entre eles Correio Mercantil, Ilustração
Brasileira e Gazeta de Notícias.
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