domingo, 21 de outubro de 2012

1° GERAÇÃO

*CONTEXTO HISTÓRICO
 
O livro Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães (1811-1882), publicado em 1836, é tido como marco fundador do Romantismo no Brasil. Em torno e sob liderança de Magalhães, um grupo de homens públicos e letrados articulou as primeiras manifestações do Romantismo no Brasil, num momento caracterizado pela tentativa de definição de uma identidade nacional.
O fervor patriótico do grupo, integrado por Martins Pena (1815-1848), Francisco Adolfo Varnhagen (1816-1878) e João Manuel Pereira da Silva (1817-1895), entre outros, manifestou-se inicialmente por meio da imprensa. O primeiro veículo de divulgação consciente do ideário romântico foi a revista Niterói, que teve entre seus colaboradores Gonçalves de Magalhães, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), Francisco Sales Torres-Homem (1812-1876) e C. M. de Azeredo Coutinho. No período, destaca-se também a revista Guanabara, dirigida por Porto-Alegre, Gonçalves Dias (1823-1864) e Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882).
Foi à poesia, porém, que coube o papel de consolidação do Romantismo no país. Mais especificamente a Gonçalves Dias, poeta mais representativo da primeira geração do movimento. Em poemas de temática indianista, como I- Juca Pirama, ou patriótica, como Canção do Exílio, ele empregou temas caros aos autores românticos, como saudade, melancolia e natureza.

*CARACTERÍSTICAS
 
 
A primeira fase do Romantismo brasileiro, compreendida entre os anos de 1836 e 1852, caracterizou-se pela busca de definição de uma identidade nacional. Reunidos em torno de Gonçalves de Magalhães, cuja obra Suspiros Poéticos e Saudades, de 1836, é tida como marco fundador do movimento no Brasil, um grupo de homens públicos e letrados articulou a formação de um clima de opinião favorável à autonomia cultural do país. O processo de emancipação desencadeado daí em diante deve ser entendido, no plano cultural, como o equivalente da independência política, conquistada em 1822.
O fervor patriótico desse grupo, integrado por Martins Pena, Francisco Adolfo de Varnhagen e João Manuel Pereira da Silva, entre diversos outros, manifestou-se inicialmente por meio da imprensa, que desde a chegada de D. João VI, em 1808, tomava impulso no país. Nas três primeiras décadas do século XIX, foram fundadas dezenas de jornais e revistas, a maioria de duração efêmera. Mas a proliferação desses periódicos, geralmente dedicados à política, literatura e ciências, exprime a urgência e o anseio de expressar e fazer circular publicamente o conhecimento e a opinião.
A revista Niterói, fundada em 1836 por Gonçalves de Magalhães, Manuel de Araújo Porto-Alegre, Francisco Sales Torres-Homem e Azeredo Coutinho, participa desse contexto de florescimento da imprensa. A publicação, também de cunho científico, literário e artístico, foi fundada em Paris e tinha como epígrafe a frase "Tudo pelo Brasil e para o Brasil", e foi a primeira a promover a difusão consciente do Romantismo no país. O programa de reforma e nacionalização da literatura brasileira, veiculado por artigos e estudos publicados na revista, tinha origem nas idéias do escritor português Almeida Garrett e do historiador francês Ferdinand Denis (1798 - 1890), pioneiro no estudo da literatura brasileira.
Dois anos mais tarde, em 1838, a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) representaria outro passo importante para a consolidação do movimento no Brasil. O Instituto tinha como objetivo a produção de estudos sistemáticos de aspectos variados da realidade nacional e congregou as principais figuras da intelectualidade brasileira da época, entre as quais J. M. Pereira da Silva e Joaquim Manuel de Macedo, que foi sócio-correspondente do IHGB. Parte das pesquisas realizadas pelos integrantes do grupo era publicada na revista da instituição, que foi de extrema importância para a divulgação do ideário Romântico no país.
Outras duas publicações contribuem de modo significativo para a sedimentação do movimento nessa primeira fase. São elas o jornal Minerva Brasiliense e a revista Guanabara. O primeiro durou dois anos - de 1843 a 1845 - e merece destaque pelos nomes que nele atuaram: tinha entre seus colaboradores Gonçalves de Magalhães, Odorico Mendes, Santiago Nunes Ribeiro e Teixeira e Sousa (1812-1861). Foi esse jornal que deu origem à revista Guanabara, editada entre os anos de 1850 e 1855. Dirigida por Porto-Alegre, Gonçalves Dias e Joaquim Manuel de Macedo, a revista exemplifica a organicidade do Romantismo brasileiro nesse primeiro momento, explicitando em seu artigo de apresentação o vínculo direto com as publicações que a antecederam.
No campo da prosa de ficção, as primeiras experiências românticas no Brasil estão bastante calcadas no romance europeu. A partir da década de 1830, traduções da obra de autores como Walter Scott, Chateaubriand e Balzac começam a ser publicadas nos jornais num formato que teria extrema popularidade no século XIX: o folhetim. A tentativa de se criar um "romance nacional" tem início nessa época. O Filho do Pescador (1843), de Teixeira e Sousa, é o primeiro passo nessa direção. Já no ano seguinte aparece A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Para o crítico e historiador Antonio Soares Amora, esses livros inauguram duas tendências importantes da ficção romântica: a histórica e a urbana.
 
*AUTORES
 
Entre os autores da Primeira Geração do Romantismo, o mais empenhado em articular a reforma romântica e nacionalista na literatura foi Gonçalves de Magalhães, que se dedicou à poesia, ao teatro, à ficção, à história e à elucubração filosófica. No campo literário, sua obra mais importante é Suspiros Poéticos e Saudades, lembrada como marco inaugural do Romantismo. Mas a importância histórica de Magalhães deve-se principalmente à figura centralizadora, que estimulou e coordenou a reforma romântica.
Indicativos de seu papel de reformulador são os ensaios Discurso Sobre a História da Literatura do Brasil e Filosofia da Religião, ambos publicados na revista Niterói em 1836. No primeiro texto, Magalhães argumenta que o Brasil possui uma literatura ligada à evolução histórica do país e que, portanto, apresenta objetos dignos de inspirar escritores. No segundo, afirma que a religião é um dos elementos básicos da sociabilidade e deve, em conseqüência, ser tema de produções artísticas. O intuito era mostrar a literatura como espírito da evolução histórica do país, e o mérito do texto está em postular a necessidade de se estudar os escritores brasileiros do passado para definir a continuidade com o presente. A religião seria o liame capaz de estabelecer a conexão com os antecessores.
Pereira da Silva e Santiago Nunes Ribeiro também produziram textos de importância para a consolidação do movimento. No segundo número da mesma Niterói, Silva publicou Estudos Sobre a Literatura. Nesse texto, ele retoma os temas de Magalhães e argumenta que o Brasil tinha necessidade de manifestar uma literatura própria, o que requer rejeição da imitação clássica e atenção às inspirações locais. Foi ele o primeiro a apontar o Romantismo como guia para se levar esse projeto adiante. Já Nunes Ribeiro é autor do ensaio Da Nacionalidade da Literatura Brasileira. Publicado no jornal Minerva Brasiliense, o texto defende a tese de que a literatura nacional existe desde os primeiros autores do período colonial, de muita consequência para futuras elaborações teóricas sobre a independência da literatura brasileira em relação à Europa.
Autor de A Moreninha (1844), O Moço Louro (1845) e Os Dois Amores (1848), entre muitos outros, Joaquim Manuel de Macedo é o prosador de maior destaque nesta fase inicial do Romantismo. Até porque José de Alencar, em todos aspectos o nome mais importante da prosa romântica brasileira, ainda não tinha começado a carreira literária. Também autor de poemas e de doze peças de teatro, Macedo atuou como cronista no Jornal do Commercio, onde mantinha a coluna A Semana. Como ficcionista, foi o primeiro autor a transpor os tipos, as cenas, a vida da sociedade do Rio de Janeiro para o gênero romance - o que era novidade no país.
Macedo obteve grande popularidade ao abordar cenário e personagens familiares para os leitores cariocas, ao descrevê-los de maneira ligeira, sentimental e novelesca, tal como prescrevia o modelo folhetinesco francês. "Realidade, mas só nos dados iniciais; sonho, mas de rédea curta; incoerência, à vontade; verossimilhança, ocasional; linguagem, familiar e espraiada: eis a estética dos seus romances", define Antonio Candido (1918) no livro Formação da Literatura Brasileira.
Foi à poesia, porém, que coube o papel de consolidação do Romantismo no país. Mais especificamente a Gonçalves Dias, o poeta mais representativo da primeira fase do movimento. Em poemas de temática indianista, como I- Juca Pirama, ou patriótica, como Canção do Exílio, ele transformou em experiência o que antes era apenas tema. A transformação fica evidente ao se comparar O Dia 7 de Setembro, de Gonçalves de Magalhães, com a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. O assunto comum - o amor e a saudade da pátria - é abordado em tom protocolar e oficial no poema de Magalhães, ao passo que Gonçalves Dias harmoniza rigor formal e sentimento num poema ainda hoje capaz de fazer vibrar as cordas do amor pelo país natal.
Graças à complexidade dos recursos formais empregados por Gonçalves Dias, saudade, melancolia, natureza, índio, enfim, toda a galeria temática do Romantismo ganha significado para além da tentativa de se fazer um mero registro da realidade do país.
 
 


2° GERAÇÃO.

   *CONTEXTO HISTÓRICO

A segunda geração do Romantismo tem seus traços mais facilmente identificáveis no campo da poesia e seu marco inicial é dado pela publicação da poesia de Álvares de Azevedo (1831 - 1852), em 1853. Em vez do índio, da natureza e da pátria, ganham ênfase a angústia, o sofrimento, a dor existencial, o amor que oscila entre a sensualidade e a idealização, entre outros temas de grande carga subjetiva. Exemplares desse período são as obras de Fagundes Varela (1841 - 1875), Casimiro de Abreu (1839 - 1860) e Álvares de Azevedo (1831 - 1852).

Em 1856, com a polêmica em torno no poema A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães (1811 - 1882), ganha expressão a figura de José de Alencar (1829 - 1877), o mais importante prosador do Romantismo brasileiro. Nas objeções que faz a Magalhães, Alencar manifesta sua posição a respeito das correntes nacionalistas e delineia o programa de literatura indianista que seguiria nos anos seguintes. As premissas de O Guarani (1857), Os Filhos de Tupã (1863), Iracema (1865) e Ubirajara (1874) estão formuladas nos artigos escritos a propósito da polêmica.

A ficção com ambientação urbana toma corpo neste período. Iniciada com A Moreninha, de Macedo, a linhagem tem continuidade com Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Publicado em folhetim entre 1852 e 1853, o livro pode ser lido como uma reação aos hábitos inspirados no "refinamento" da corte. Assim como os livros de Macedo, foi sucesso de público e contribuiu para a criação do romance brasileiro.

Bernardo Guimarães (1825 - 1884), Varnhagen, Pereira da Silva, Luiz Gama (1830 - 1882), José Bonifácio e Machado de Assis (1839 - 1908) também tiveram participação importante na produção intelectual do período. Além das atividades como poetas ou romancistas, eles protagonizaram o debate de idéias, geralmente veiculado pela imprensa, de fundamental importância para a consolidação da literatura no Brasil.
 
   *CARACTERÍSTICAS

A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azevedo, em 1853, é considerada por parte da crítica como marco inicial da segunda geração do Romantismo no Brasil. Essa geração, cujos maiores expoentes são Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Casimiro de Abreu, tem a marca do ultra-romantismo. A angústia, o sofrimento, a dor existencial, o amor que oscila entre a sensualidade e a idealização são alguns dos temas de grande carga subjetiva que tomam o lugar do índio, da natureza e da pátria, dominantes na geração anterior.


Essa exacerbação da sentimentalidade e das fantasias da imaginação mórbida exige uma versificação mais livre, menos apegada a esquemas formais preestabelecidos, e define as obras poéticas de maior impacto do período, como Um Cadáver de Poeta, de Álvares de Azevedo.

Inspirados pelo inglês Byron, pelo italiano Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred de Musset, os poetas da segunda geração escrevem poemas que sugerem uma entrega total aos caprichos da sensibilidade e da fantasia, abordando temas que vão do vulgar ao sublime, do poético ao sarcástico e ao prosaico. A morte precoce ajudou a compor a mística em torno desses poetas de inspiração byroniana, que não raro fazem apologia da misantropia e do narcisismo, cultivam paixões incestuosas, macabras, demoníacas e mórbidas.

No campo da crônica e da prosa jornalística de maneira geral, talvez seja mais adequado considerar 1856 como o momento de transição para a segunda geração romântica. Nesse ano foi publicado A Confederação dos Tamoios, poema épico de Gonçalves de Magalhães que deu início à polêmica mais importante do movimento, travada justamente entre os defensores de Magalhães e o mais expressivo prosador do Romantismo: José de Alencar.

O assunto abordado pelo poeta é a rebelião dos tupis contra os portugueses ocorrida no Rio de Janeiro no século XVI, com destaque para a figura do chefe Aimbire, transformado em símbolo de resistência do homem americano. Impresso às custas do Imperador Pedro II, o poema era expressão acabada da literatura oficial. Em parte por essa razão, José de Alencar, recém-iniciado na carreira literária, manifestou-se publicamente sobre o texto. Escreveu diversos artigos, assinados sob o pseudônimo Ig, em que denunciava a inferioridade da realização do poeta ante a magnitude do objeto. Porto-Alegre, Monte Alverne e, num caso único no país, o próprio Imperador, saíram em defesa do poeta. Alencar, por sua vez, foi secundado por Ômega, pseudônimo do jornalista Pinheiro Guimarães.

É nesse momento que se articula uma faceta importante do projeto literário de Alencar. Nas objeções que faz a Magalhães em seus artigos, Alencar manifesta sua posição a respeito das correntes nacionalistas e delineia o programa de literatura indianista que seguiria nos anos seguintes. As premissas de O Guarani (1857), Os Filhos de Tupã (1863), Iracema (1865) e Ubirajara (1874) podem todas ser extraídas dos textos escritos a propósito da polêmica. "A crítica dos criadores é muitas vezes programa; examinando outros escritores, procuram ver claro neles mesmos", escreve Antonio Candido (1918) respeito desse episódio. Cabe notar que a discussão em torno do livro A Confederação dos Tamoios revela ainda a existência de uma dimensão pública para o debate literário, praticamente inexistente nos períodos anteriores e que ganha impulso com a expansão da atividade da imprensa.

Além de Alencar, outros autores, entre eles Dutra e Melo, Junqueira Freire, Álvares de Azevedo e Franklin Távora (1842 - 1888), contribuem para o adensamento da atividade crítica nesse momento. Em publicações como Nova Minerva, Correio Paulistano e Atualidade, eles produzem ensaios, prefácios e artigos que atestam a importância do momento para o estabelecimento definitivo de uma crítica literária no país.

Paralelamente a isso, Pereira da Silva, Antônio Henriques Leal, Varnhagen, entre críticos, eruditos e professores de origem diversa, reúnem textos, editam antologias, pesquisam biografias, redescobrem autores brasileiros do passado, vão, enfim, tornando possível a principal aspiração do Romantismo no plano da crítica: elaborar uma história literária que exprimisse a imagem da inteligência nacional na seqüência do tempo. No entanto, só a partir de 1880, com a publicação da História da Literatura Brasileira, de Sílvio Romero (1851 - 1914), esse processo ganharia uma síntese de grande expressão.

Além do indianismo, outras vertentes temáticas características da prosa romântica tomam corpo. A urbana, por exemplo. Iniciada com A Moreninha, de Macedo, essa linhagem tem continuidade por meio de uma das melhores obras do período: Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Publicado em forma de folhetim entre 1852 e 1853, o livro pode ser lido como uma reação ao esnobismo afrancesado, aos hábitos inspirados no "refinamento" da corte. Ambientada no tempo de D. João VI, a história criada por Almeida centra foco nos estratos mais baixos da sociedade. Assim como os livros de Macedo, foi sucesso de público e teve contribuição importante para a criação de uma ficção brasileira original.

Dois anos depois da publicação da obra de Manuel Antônio de Almeida, Alencar começa a carreira literária. Seus primeiros livros, Cinco minutos e Viuvinha, publicados em folhetim em 1856 e 1857 no Diário de Rio de Janeiro, definem as fórmulas dos "perfis femininos" e dos "quadros de sociedade", segundo a definição do crítico Antônio Soares Amora. Ambos pertencem à temática urbana, da qual ainda fariam parte Lucíola (1862), Diva (1864), A Pata da Gazela (1870), Sonhos D?Ouro (1872) e Senhora (1875).

   *AUTORES

José de Alencar, Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Varnhagen, Pereira da Silva, Luiz Gama (1830 - 1882), José Bonifácio, Machado de Assis. São esses alguns dos autores que produziram textos importantes para a formação da consciência literária do período. Geralmente voltados para atividades literárias de outro teor, como a poesia e o romance, eles protagonizaram um debate de idéias, no mais das vezes veiculadas pela imprensa, de importância fundamental para a consolidação da literatura no Brasil.
Poeta mais destacado da segunda geração romântica, Álvares de Azevedo é autor de alguns dos poemas mais ilustrativos desse Romantismo calcado nos dramas da subjetividade, no pessimismo e na obsessão pela morte, presente em títulos como Um Cadáver de Poeta, Se Eu Morresse Amanhã e Lembrança de Morrer. Ele também é autor de dois ensaios importantes, Jacques Rolla e Literatura e Civilização em Portugal, escritos entre 1849 e 1850. Em ambos, discorre principalmente sobre sua concepção do belo e tece considerações sobre psicologia literária. Apesar de morto antes de completar vinte e um anos, deixou nesses textos, assim como na excelente obra poética que realizou, uma consciência aguda dos problemas estéticos de seu tempo.

Varnhagen e Pereira da Silva são autores de alguns dos compêndios mais importantes do período. O Florilégio da Poesia Brasileira (1850-1853), de Varnhagen, é a antologia de literatura mais rica de seu tempo. Foi a que proporcionou pela primeira vez um conjunto de poemas de Gregório de Matos (1636 - 1696), cuja descoberta se deve ao Romantismo. Pereira da Silva, por sua vez, tem importância pela pesquisa biográfica que realizou. Em 1856, publicou Varões Ilustres do Brasil Durante os Tempos Coloniais, compêndio de vinte biografias de importantes intelectuais brasileiros cujo modelo era inspirado na obra do historiador romano Plutarco.

Bernardo Guimarães (1825-1884) é outro nome importante do período. Em São Paulo, conviveu com Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e José Bonifácio, o Moço. Entre 1858 e 1861 viveu no Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista e crítico literário do jornal Atualidade. Nesse momento, a defesa de idéias republicanas e mais tarde anti-escravistas começa a tomar forma consistente. Alguns de seus principais defensores, como José Bonifácio, o Moço (1827-1886), e Luiz Gama (1830-1882), foram também importantes cronistas do período.

Bonifácio, por exemplo, foi diretor do jornal Ipiranga e colaborador em A Tribuna Liberal, de Inglês de Souza (1853 - 1918), no Rio de Janeiro. Além de deputado e senador, foi professor na Faculdade de Direito de São Paulo, onde teve como alunos Rui Barbosa (1849 - 1923), Castro Alves (1847 - 1871), Joaquim Nabuco e Afonso Pena. Gama, por sua vez, foi fundador do jornal Diabo Coxo. O periódico era ilustrado pelo italiano Angelo Agostini e é considerado marco da imprensa humorística em São Paulo. Entre 1864 e 1875, Luiz Gama colaborou nos jornais Ipiranga, Cabrião, Coroaci e O Polichileno. E fundou, em 1869, o jornal Radical Paulistano, com Rui Barbosa.

Até Machado de Assis (1839-1908), maior prosador do Realismo brasileiro e geralmente identificado com o período posterior ao Romantismo, exerceu atividade influente na imprensa nas décadas de 1850 e 1860, antes de estrear como romancista em 1872. Machado começou a trabalhar aos 16 anos como tipógrafo aprendiz da Imprensa Nacional. Aos 18, entrou na tipografia de Paula Brito, que publicava o jornal A Marmota Fluminense, que em 1855 estampou um de seus primeiros poemas, Ela. Nos anos seguintes trabalhou como cronista, crítico literário e teatral de vários jornais, entre eles Correio Mercantil, Ilustração Brasileira e Gazeta de Notícias. 
 
 
 
 

3° GERAÇÃO.

   *CONTEXTO HISTÓRICO

As ideias liberais, abolicionistas e republicanas formam a base do pensamento brasileiro no período de 1870 a 1890. Influenciados por Auguste Comte (1798-1857), Charles Darwin (1809-1882) e outros pensadores europeus, escritores como Tobias Barreto (1839-1889), Sílvio Romero (1851-1914) e Capistrano de Abreu (1853-1927) empenham-se na luta contra a monarquia. Ao lado deles, Joaquim Nabuco (1849-1910), Rui Barbosa (1849-1923) e Castro Alves (1847-1871) também se destacam na divulgação do novo ideário.
O engajamento em questões da realidade social e a oposição ao governo central tornam-se incompatíveis com o subjetivismo e o patriotismo, até então dominantes. Uma nova polêmica envolvendo José de Alencar (1829-1877) é indicativa dos rumos que o movimento romântico toma nesse período. Ocorrida em 1871, a discussão foi iniciada pelo jovem romancista cearense Franklin Távora (1842-1888), que acusava Alencar de excesso de idealismo e pouco conhecimento empírico da realidade que retratava. A polêmica repercutiria sobre textos teóricos do próprio Alencar e também de Machado de Assis (1839-1908).

Na poesia, Castro Alves é o nome de maior destaque da terceira geração romântica. Autor de Espumas Flutuantes (1870) e do poema Navio Negreiro, ele celebrizou-se pela força lírica dos poemas em favor da libertação dos escravos. Também é relevante nesse período a figura de Sousândrade (1833-1902). Autor de uma poesia com momentos ricos em experimentalismo, como se pode notar pela leitura de O Guesa (1868), ele também teve atuação importante como cronista político.
 
   *CARACTERÍSTICAS
 
As ideias liberais, abolicionistas e republicanas formam a base do pensamento da inteligência brasileira a partir da década de 1870, que concentra a produção da chamada Terceira Geração do Romantismo e marca o início da transição para o Realismo. Influenciados pela filosofia positivista e pelo evolucionismo professado por Auguste Comte, Charles Darwin e outros pensadores europeus, escritores importantes como Tobias Barreto, Silvio Romero e Capistrano de Abreu empenham-se na luta contra a monarquia. Ao lado deles, intelectuais de vasta formação humanística, como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, e poetas de grande expressão, como Castro Alves, assumem papel de destaque na divulgação do novo ideário.
Mesmo antes deles, já na década de 1860, é possível identificar a fermentação de idéias em favor da abolição e da República, com o aparecimento dos primeiros panfletos e jornais que defendiam o fim da escravidão e o estabelecimento de um regime republicano, o que resulta na fundação do Partido Republicano, em 1870. Nessa mesma década, quase duzentos mil imigrantes chegam ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café do Sudeste, num processo que anuncia a substituição do trabalho escravo pela mão-de-obra livre.
No prefácio aos Vários Escritos, de Tobias Barreto, Silvio Romero sintetiza a efervescência do período: "O decênio que vai de 1868 a 1878 é o mais notável de quantos no século XIX constituíram nossa vida espiritual. [...] De repente, por um movimento subterrâneo que vinha de longe, a instabilidade de todas as coisas se mostrou e o sofisma do império apareceu em toda a sua nudez. A guerra do Paraguai estava ainda a mostrar a todas as vistas os imensos defeitos de nossa organização militar e o acanhado de nossos progressos sociais, desvendando repugnantemente a chaga da escravidão".
Aos poucos, o engajamento em questões da realidade externa e a oposição ao governo nacional, implícitos nessa mudança de visão aludida por Romero, vão se tornando incompatíveis com o subjetivismo e o patriotismo, ambos característicos das gerações românticas anteriores. Indicativa dos rumos que toma o movimento nesse período é outra polêmica envolvendo José de Alencar. Ocorrida em 1871, quinze anos depois da celeuma em torno do poema Confederação dos Tamoios, a discussão foi iniciada pelo jovem romancista cearense Franklin Távora.
Amigo de Silvio Romero e futuro autor do romance regionalista O Cabeleira (1876), Távora escreveu oito cartas com críticas severas ao romance O Gaúcho, de Alencar. As missivas foram publicadas no periódico quinzenal Questões do Dia, mantido pelo escritor português José Feliciano de Castilho, antigo desafeto político de Alencar. À resposta do célebre romancista, seguiram-se mais doze cartas de Távora, desta vez tomando Iracema como alvo. As acusações centrais eram o excesso de idealização dos personagens e a falta de conhecimento empírico a respeito do lugar retratado, indicativas da aspiração por uma representação mais realista da realidade brasileira.
Segundo o crítico Antonio Candido (1918), a polêmica teve importância por dois motivos. Primeiro, porque as observações de Távora seriam o primeiro sinal, no Brasil, de apelo ao sentido documentário das obras que abordam a realidade presente. Segundo, porque o fato teria motivado Alencar a escrever, no prefácio do romance Sonhos D'Ouro (1872), uma importante reflexão sobre sua obra. Nesse texto, o romancista argumenta que o retrato das condições locais não é a única via para uma literatura nacional e reconhece a investigação social, psicológica e dos costumes contemporâneos como tarefa primordial do romancista.
Essa tomada de consciência teria repercussão imediata sobre o jovem Machado de Assis. Em 1873, no periódico Novo Mundo, ele publicaria Instinto de Nacionalidade, ensaio em que desenvolve o mesmo tema de Alencar e supera suas próprias ideias acerca da constituição de uma literatura nacional, expressas em artigos anteriores. O texto mostra com clareza uma perspectiva nova: "O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem de seu tempo e de seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço", escreve Machado. Era o anúncio da transição realizada pelo escritor, que nos romances da década de 1870 põe à prova os preceitos do Romantismo, ao mesmo tempo em que expõe as limitações de uma representação da realidade calcada no elemento típico e no retrato pitoresco. Com isso, Machado preparava o caminho para a publicação de sua primeira obra-prima, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1880, que marca a superação do Romantismo na prosa de ficção.
 
   *AUTORES
 
Segundo o crítico Alfredo Bosi (1936), Tobias Barreto e Silvio Romero estiveram entre os primeiros autores a sugerir a mudança de rumo no movimento romântico. Mestiço de origem humilde, Barreto foi o mestre da chamada Escola do Recife, e teve em Romero o seu mais importante discípulo. Sua obra poética, influenciada pelo francês Victor Hugo, é marcada pelo traço característico desse momento do Romantismo: o lirismo público e engajado em questões de justiça social, que geralmente se expressam em prosa e poesia marcadas pela grandiloqüência. Famoso pela verve de seus textos, Romero foi dos mais importantes críticos da literatura nacional do fim do século XIX. Colaborador de diversos jornais a partir da década de 1870, marcou época também pelas avaliações equivocadas. Considerava Machado de Assis um romancista menor e achava Tobias Barreto superior a Castro Alves, hoje unanimemente considerado o mais importante poeta da terceira geração romântica.
Autor de Espumas Flutuantes (1870), único livro que publicou em vida, e do famoso poema Navio Negreiro (1868), Castro Alves celebrizou-se pela força épica dos poemas em favor da libertação dos escravos. Vários de seus poemas, marcados pelo tom grandiloqüente, hiperbólico e exaltado, alcançaram enorme popularidade. Amigo de Joaquim Nabuco e Machado de Assis, a quem foi apresentado por José de Alencar, Alves também foi redator do jornal paulista A Independência ao lado de Rui Barbosa e defendeu ideias de cunho liberal em diversos jornais, entre eles o Jornal do Recife, A Primavera e O Lidador Acadêmico.
No campo da prosa de ideias, o nome que melhor simboliza a defesa da abolição é Joaquim Nabuco. Considerado o último liberal romântico do século XIX pelo crítico Alfredo Bosi, Nabuco é autor de O Abolicionismo (1883). Deputado pelo Partido Liberal, foi uma das figuras públicas de maior projeção de seu tempo. Foi também destacado memorialista, como atesta a obra Um Estadista do Império, em que reconstitui a vida de seu pai.
A mesma fibra abolicionista de Alves e Nabuco era partilhada por Rui Barbosa. Em 1869, Barbosa foi fundador do periódico Radical Paulistano, com Américo de Campos e Luiz Gama (1830 - 1882). Em 1883, substituiu Joaquim Nabuco na direção do Jornal do Brasil. O autor aprofundaria a defesa do ideário liberal valendo-se de ferramentas do direito e da retórica. Fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL) ao lado de Machado de Assis, tornou-se conhecido pela erudição e pela eloqüência de sua oratória.
Tem ainda destaque nesse período a figura de Sousândrade, cuja obra tem momentos ricos em experimentalismo, como se pode notar pela leitura de O Guesa Errante. Mas o maranhense Joaquim de Sousa Andrade, seu nome de batismo, só teria a obra valorizada a partir da década de 1960, principalmente com os estudos realizados pelos irmãos Haroldo de Campos (1929 - 2003) e Augusto de Campos (1931). No período de 1871 a 1879, quando foi secretário e colaborador de O Novo Mundo, o mesmo periódico onde Machado de Assis publicou o Instinto de Nacionalidade, Sousândrade teve atuação importante como cronista político.